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Dia do Pedagogo: Aluna surda conta sua experiência como estudante de Pedagogia

 


Fabrícia é a primeira aluna surda da Faceli e a primeira a cursar o nível superior em Linhares


 


“Estou muito feliz. Depois de tantas dificuldades que enfrentei, e hoje estar perto de concluir o ensino superior para mim é uma Vitória. Penso que já vem um alívio com essa conquista”. É com essas palavras que Fabrícia Batista de Souza dos Santos, aluna do 7º período de Pedagogia, conta sua história de vida e de estudante da Faceli.


 


Fabrícia é a primeira aluna surda da faculdade e a primeira a cursar o ensino superior em Linhares. “Nó início para mim foi muito difícil, não conhecia a linguagem técnica da faculdade. Quando passei no vestibular, muitas pessoas ficaram espantadas e eu só pensava como ia estudar. Me perguntava: Será que a turma vai ter intérprete? E para a minha felicidade teve. Foi o intérprete quem intermediou no esclarecimento das dúvidas e possibilitou acesso ao conteúdo”, contou Fabrícia na língua de sinais.


 


Com a presença do profissional intérprete, ela acrescenta, “depois de algum tempo na faculdade fui me inteirando, entendo a história, os teóricos. Assuntos complexos para um surdo, como eu, que não tive acesso a Libras no ensino fundamental, a maioria dos surdos que fizeram até o ensino médio como eu, não tiveram intérpretes. O que dificulta a compreensão dos conteúdos do ensino superior. A maioria passaram o fundamental sem ninguém para intermediar esse processo. Isso desestimula muitos de nós”.


 


 


A estudante conta ainda, “na educação somos vistos como preguiçosos, fracassados, por causa da desistência, alguns reprovam. Isso por falta de conhecimento dos professores, que muitas vezes não entendem que temos uma língua própria. Hoje chegar onde estou, é uma conquista muito grande”, afirmou.


 


Na família, Fabrícia é a única surda e única a ingressar em uma faculdade. “minha família recebe isso muito feliz”, contou. Na infância sofreu muito para estudar. “Quando criança, eu morava em Minas Gerais e estudava numa escola regular. A professora não entendia a minha condição. Me obrigava a falar, me proibia usar a língua de sinais. Eu não conseguia aprender o conteúdo, só copiava. Por causa disso, tirei notas vermelhas, reprovei, me senti inferiorizada. Hoje a minha realidade é diferente. Sei que sou capaz de fazer qualquer coisa”,  comentou com um sorriso nos lábios.


 


Na faculdade, a comunicação não é difícil, hoje todo mundo conversa com ela. “Do 1º ao 5º período poucos tentavam se comunicar comigo, mas depois que tivemos a disciplina de Libras, a turma toda passou a ter interesse em aprender a linguagem, para conversar comigo”, disse Fabrícia.


 


Apesar das dificuldades, Fábrícia nunca desistiu de lutar pelos seus sonhos. Atualmente ela dá aula para surdos na Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio, EEEFM “Bartouvino Costa”. A estudante tem planos para o futuro. “A pedagogia se tornou importante para mim. Quero aprender cada vez mais, fazer pós e concurso para me efetivar nessa área. Além disso, quero contribuir nos estudos dos surdos. Estimulá-los a não desistir. Por que se eu consegui fazer uma faculdade, outros também podem. Alguns surdos já até se interessaram pela ideia”, finalizou ela.


 


A realidade da Fabrícia sempre despertou interesse e preocupação por parte da direção da Faceli e da coordenação do curso de pedagogia, que sempre procuraram proporcionar a estudante ensino de qualidade e interação com os outros alunos. Mais do que atender a Lei, a direção sabe como é importante a inclusão desses estudantes na escola. Por isso, contratou um intérprete para maior aprendizado da aluna. Na graduação, os estudantes têm ainda disciplina de Libras, aprendem trabalhos voltados à educação de surdos. Tudo para promover a integração na sala de aula.


 


Um dos trabalhos foi do aluno Jadilson Luiz Lopes Filho, sobre a importância das escolas pólos (surdos), para Linhares. “O trabalho me possibilitou conhecer melhor sobre as pessoas surdas e ter um contato com a língua materna delas, que é a Libras. Sempre tive curiosidade de conhecer a comunicação de sinais, principalmente, quando via o intérprete da Fabrícia se comunicando com ela. Achava interessante”, disse.


 


Ele acrescenta, “trabalhos como esse, tem muito a ensinar para a vida e para o exercício da profissão. Aprendi a lidar com alunos surdos e sobre a importância da diversidade. Percebi que as pessoas surdas se comunicam tão bem e que todos no fundo somos iguais. O curso de Pedagogia mudou meu modo de pensar. Nas disciplinas de antropologia, filosofia e sociologia  aprendi conteúdos que quero aplicar na minha vida e na minha profissão”, concluiu. 


 


ESCOLAS PÓLOS EM LINHARES


 


Hoje Linhares possui três escolas Pólos, sendo duas da rede municipal. O Centro de Educação Infantil , o CEIM “Geny Ribeiro de Souza”, no bairro Shell, e a Escola de Ensino Fundamental I, EMEF “Castelo Branco”, no Centro. A outra instituição é a EEEFM “Bartouvino Costa”, também localizada no Centro. As escolas pólos contam com professores bilíngues, professores surdos, além de intérpretes em cada sala de aula que tem alunos surdos.


 


Na rede municipal de ensino, a Secretaria de Educação de Linhares desenvolve um trabalho de inclusão de surdos nas escolas do município, e já atende à 13 alunos. Os trabalhos são coordenados pela intérprete da Fabrícia, Katiuscia Gomes Barbosa Olmo. Ela é professora de Libras há 10 anos e intérprete há 20 anos.


 


A Libras é a 2ª língua do Brasil desde 24 de abril de 2002, a partir da lei n°10.436, ficando reconhecida como meio legal de comunicação e expressão a Língua Brasileira de Sinais – Libras e outros recursos de expressão a ela associados.
 


 


Assessoria de comunicação
Joyce Azevedo
Secom (27) 3372-1829
Faceli (27) 3371-2320

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